Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 29 de novembro de 1946. Negra e de origem humilde, cresceu em uma família numerosa marcada pela luta diária contra as desigualdades sociais e raciais. Sua mãe, lavadeira, e sua tia, também doméstica, foram figuras centrais na sua criação, ensinando-lhe a força do trabalho e o valor da educação. Ainda criança, começou a trabalhar como empregada doméstica, mas encontrava tempo para estudar em escolas públicas. A leitura sempre foi parte de sua vida, incentivada por familiares e pela convivência com livros disponíveis graças a uma tia que trabalhava em uma biblioteca pública.
Em sua infância, Conceição enfrentou as marcas do racismo e da pobreza, vivenciando as injustiças sociais desde cedo. Essas experiências moldaram a perspectiva crítica que mais tarde permeou sua produção literária. No final da década de 1960, mudou-se para o Rio de Janeiro para buscar melhores oportunidades. Formou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) enquanto trabalhava como professora da rede pública. Posteriormente, obteve o título de Mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) com a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996) e de Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011).
Sua carreira literária começou em 1990, com a publicação de contos e poemas na série Cadernos Negros. Em 2003, lançou seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio, que logo se tornou leitura obrigatória em diversos vestibulares e objeto de estudos acadêmicos. Com uma narrativa densa e poética, aborda questões como racismo, memória e desigualdade. Em 2006, publicou Becos da memória, romance que retrata os dramas de uma comunidade em processo de remoção, novamente centrado em protagonistas femininas. Outras obras marcantes incluem Poemas de recordação e outros movimentos (2008), Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), Olhos D'água (2014) — finalista do Prêmio Jabuti — e Histórias de leves enganos e parecenças (2016).
Conceição Evaristo conquistou reconhecimento internacional. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas, incluindo inglês e francês, e publicadas em países como Alemanha, França e Estados Unidos. Em 2017, foi homenageada pelo Itaú Cultural em São Paulo na exposição Ocupação Conceição Evaristo, que destacou sua trajetória de vida e obra. Em 2018, recebeu o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra. Em 2023, lançou o conto Macabéa, flor de mulungu, uma releitura de A hora da estrela, de Clarice Lispector, e foi agraciada com o título de Intelectual do Ano pela União Brasileira de Escritores (UBE).
Seus textos, sejam em poesia, prosa ou ensaio, abordam temas como resistência, identidade, racismo e as vivências de mulheres negras. Conceição também é reconhecida por sua participação ativa nos movimentos de valorização da cultura negra no Brasil, sempre destacando a importância da memória coletiva e individual como forma de resistência.
Em 8 de março de 2024, tomou posse como integrante da Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira número 40, consolidando seu lugar como uma das vozes mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Suas palavras, marcadas pela sensibilidade e pelo poder de denúncia, continuam ecoando e inspirando gerações no Brasil e no mundo.